O livro “Quem é essa mulher”, da Milena Carvalho, foi daquelas boas descobertas de 2018. Cheguei a ele pelo kindle unlimited e na primeira frase já fui fisgada.
A história da Liane é forte mas, mais do que isso, necessária. O mais encantador é o modo como as descobertas da personagem principal vão sendo narradas – sem pressa – e como isso acaba levando o leitor para dentro de sua vida turbulenta, cheia de superações e emoções à flor da pele. Entre essas muitas descobertas está a de si própria, do modo como ela usa as relações para escapar de algo que precisa ser encarado de frente e não contornado. As muitas paixões de Liane trazem consigo uma reflexão sobre a nossa vida, sobre os relacionamentos amorosos que temos e sobre como eles falam muito sobre nós mesmos.
Não existe coincidência, existe energia. Não existe o acaso, existe uma teia.
A um certo ponto do livro vem uma angústia pela falta de diálogo da protagonista com todos ao seu redor. Dá vontade de dar um chacoalhão nesse povo todo que a circunda. E isso não é exatamente o que estamos vivendo hoje? Fico pensando quantas coisas na vida da Lia poderiam ter sido evitadas com um bate-papo aberto e franco. E na nossa? Por isso é tão importante podermos falar, expor o que sentimos, as nossas ideias, nossa visão de mundo.Ao fim da leitura eu só conseguia pensar que fatos não definem o que somos; o que nos define é como os enfrentamos.
E vale destacar, antes de finalizar, que o livro cita uma das minhas melhores leituras desse ano: Desonra, do Coetzee. “Você já leu?”
Eu sou feita de água. Uma gota, uma poça, um arroio, um rio que desemboca no mar. E já não espero um navio naufragado.